No âmbito da iniciativa “Um PRR para a Diabetes – A Oportunidade é Agora”, promovida pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares [APAH] e a Novo Nordisk, com o apoio técnico da MOAI Consulting e da consultora IASIST, realizou-se uma análise que procurou avaliar o impacto provocado pela pandemia na gestão da diabetes, ao nível dos cuidados de saúde primários e dos hospitais do SNS.
Diabetes e Covid-19: Estudo revela que a gestão da diabetes foi fortemente afetada pela redução dos cuidados de saúde provocada pela pandemia
O impacto nos Cuidados de Saúde Primários
No que diz respeito aos Cuidados de Saúde Primários, entre março e dezembro de 2020, o receio de interação com estas unidades e uma potencial limitação na capacidade de vigilância e monitorização ativa por parte destes serviços resultou num decréscimo de 23% nos valores de incidência [novos casos] de diabetes. O mesmo aconteceu com a obesidade, principal fator de risco para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 – foram registados menos 62% de novos casos.
Por outro lado, a alocação exaustiva de recursos humanos e técnicos para responder à Covid-19 comprometeu a dinâmica assistencial em vários domínios relevantes para a prevenção de complicações na diabetes. Só no primeiro ano de pandemia foi possível verificar um decréscimo:
Na globalidade, a proporção de pessoas com diabetes com registo de acompanhamento adequado sofreu um decréscimo de 56% no primeiro ano de pandemia, face a 2019. Conheça todos os dados apurados pelo estudo aqui:
O impacto nos Hospitais do SNS
Já nos hospitais do SNS, os dados referentes ao ano de 2020, por comparação ao ano anterior, revelam que houve um decréscimo de 15% no número de doentes com diabetes, quer em internamento, quer em hospital de dia e outras formas de tratamento ambulatório, verificando-se as maiores reduções entre os períodos homólogos de abril [-40%] e maio [-25%]. Tais resultados podem ser explicados por diversos fatores como a concentração dos hospitais nos doentes com Covid-19, o receio dos doentes em procurar serviços de saúde e a política geral de confinamento.
Contudo, o peso relativo dos doentes com diabetes no contexto da atividade de internamento hospitalar aumentou em cerca de 5% no mesmo período. Admite-se que a súbita falha na resposta dos serviços de saúde poderá ter tido uma repercussão mais negativa em doentes diabéticos, provocando descompensações que motivaram a procura hospitalar.
O estudo mostra que a complexidade casuística da diabetes aumentou em 2020 cerca de 15%, o que se traduz num aumento de custos médios por doente tratado de 2.900€ [2019] para 3.300€ [2020]. Quando comparado com um “doente padrão” com alta hospitalar nos hospitais do SNS em 2020, os doentes com diagnóstico principal de diabetes apresentaram um custo médio de recursos 30% superior. Se olharmos ao tempo médio de internamento, também se registou um aumento de 2,5% para doentes com diabetes como diagnóstico principal e 3,8% nos casos em que a diabetes foi diagnóstico secundário, o que parece confirmar a maior complexidade dos doentes com diabetes.
Apesar da redução na mortalidade geral hospitalar de 2,2% – fenómeno ainda não devidamente estudado, mas que poderá estar relacionado com a redução da procura e o confinamento, que provocaram mais mortalidade no domicílio e nas Estruturas Residenciais para Idosos [ERPIs], contrariando até a ideia de que a Covid-19 teria induzido uma maior mortalidade hospitalar – verificou-se um aumento da mortalidade intra-hospitalar nos doentes com diabetes em 6,9% e 5,1%, respetivamente em doentes com diagnóstico principal e diagnóstico secundário.
No entanto a evolução mais significativa resulta da análise da letalidade da doença, ou seja, o número de óbitos face aos doentes internados que registou um aumento de 24,9% nos doentes com diabetes como diagnóstico principal e 22,6% nos doentes com diabetes como diagnóstico secundário. Parece assim, evidente, que estivemos, em 2020, perante uma casuística com diabetes mais severa, com uma letalidade francamente superior.
Relativamente às complicações, é particularmente relevante o crescimento de 2% nas amputações major em doentes com diabetes como diagnóstico principal, ao contrário do que se passou a nível nacional [redução de 8,1%] e nos doentes com diabetes como diagnóstico secundário [redução de 7,6%]. Assinala-se um aumento verificado logo em março, no início da pandemia, de 55% no número de amputações, face ao mês homólogo do ano de 2019.
Este estudo analisou ainda a relação da diabetes com o Acidente Vascular Cerebral [AVC] e o Enfarte Agudo do Miocárdio [EAM] evidenciando, no caso do AVC, um aumento de 9% no número total de óbitos e de 15,4% da letalidade, em 2020. Já nos doentes com diabetes e com EAM, os 5.500 doentes identificados em 2020 representam uma diminuição de 15%, face ao número de casos no ano anterior. Apesar de a mortalidade ter sido semelhante entre os dois períodos, a taxa de letalidade aumentou 17%.
Educação, prevenção, capacidade resolutiva, governação e cooperação operacional, inovação digital e novos modelos de financiamento são as seis áreas de intervenção do Plano
A iniciativa “Um PRR para a Diabetes – A Oportunidade é Agora” juntou 20 especialistas com o objetivo de definir um plano de ação que altere o paradigma da resposta aos desafios da diabetes em Portugal contribuindo para a identificação daqueles que se consideram ser os eixos de intervenção prioritários nesta área.
Face a um diagnóstico complexo e multifatorial da realidade da diabetes em Portugal, significativamente agravado pelo impacto da pandemia, a iniciativa “Um PRR para a Diabetes – A oportunidade é agora” defende a necessidade da existência de um exercício de ampla planificação estratégica que alavanque inovação estrutural nos modelos operacionais e uma resposta ao universo de desafios adjacentes à diabetes.
São três as prioridades do “Plano de Reconstrução para a diabetes“
Para alcançar estes objetivos, o Steering Committee e a Task Force definiram seis áreas de intervenção e respetivas linhas de ação:
Assista aqui à sessão publica de apresentação do ““Plano de Reconstrução para a diabetes“:
Mais informação sobre a iniciativa “Um PRR para a Diabetes – A Oportunidade é Agora” aqui: Um PRR para a Diabetes
APAH apresenta análise do impacto da pandemia na gestão dos cuidados de saúde na diabetes — APAH