Em 2021, num contexto de mudanças e desafios face ao futuro, decorrente da pandemia Covid-19, a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) realizou, de 25 a 28 de maio, a sua 9.ª Conferência de VALOR, em formato hibrido (online e presencial restrito) subordinada ao tema “CONSTRUIR O FUTURO DA SAÚDE“.
A 9.ª Conferência de VALOR APAH foi presidida por José Carlos Lopes Martins, Sócio de Mérito (sócio n.º 44) e Presidente da APAH (1986-1989) a quem coube a abertura e a apresentação das conclusões que de seguida se transcrevem:
“Construir o Futuro da Saúde foi o tema que nos propusemos a abordar num contexto de mudanças e desafios face ao futuro. Procurámos trazer até nós a necessária discussão sobre:
Pensar e discutir o futuro da saúde é preparar o nosso sistema de saúde e fazê-lo evoluir para que seja mais resiliente. Fazê-lo crescer para que vá sempre e cada vez mais ao encontro das expetativas dos nossos doentes. É por eles que diariamente trabalhamos. O sistema como o conhecemos hoje não serve as exigências dos doentes do futuro. Há que planear, extrair lições das nossas experiencias e construir agora o futuro.
Nestes 4 dias de conferencia tivemos +40 oradores e +1000 participantes. Realizámos cerca de 20 atividades em e-learning em tempo real versando sobre as mais diferentes áreas: Centro de Responsabilidade Integrada, simulação e predição de resultados, estratificação da carga de morbilidade de base populacional, avaliação de fontes de informação, comunicação de crise, motivação e gestão da mudança, diplomacia de vacinas, Investigação e Financiamento, entre tantos outros temas apresentados de forma magistral pelos nossos oradores convidados.
Nas APAH Talks tivemos momentos verdadeiramente inspiradores:
Paulo Portas falou-nos da agenda para o futuro e de como a Pandemia constitui um desafio para os decisores, uns com melhor performance do que outros. Na sua verdadeiramente inspiradora intervenção, fomos alertados para os desafios que nos espera em termos de organização e prestação de cuidados aos doentes no futuro, pois os dados demográficos do Relatório da Comissão Europeia assim o apontam. As consequências para a saúde pública devido ao envelhecimento são previsíveis e há que agir e liderar sob o principio das “lessons learned”. A indispensável articulação entre o sector social e da saúde , o seu enquadramento legal, têm de começar a ser preparados. Ficou o alerta, e também o agradecimento aos Administradores Hospitalares no combate à pandemia, enaltecendo o papel da ferramenta ADAPT, desenvolvida pela APAH.
As eurodeputadas, Maria Manuela Leitão Marques e Lídia Pereira, apresentaram a sua visão sobre o recuperação e resiliência dos países da Zona Euro em particular do contexto português, focando a importância de nos prepararmos para a transição digital e para a existência de apoios europeus para essa tão importante transformação.
À semelhança de edições anteriores apresentámos o Barómetro dos Internamentos Sociais e debatemos “Como construir um novo ecossistema de governação saúde & social”. Continuamos a ter um elevado numero de internamentos sociais, mais de 850 no dia 17 de março, o que significa um impacto de mais de 100 milhões para o SNS. Os motivos já todos os conhecemos: são principalmente a Incapacidade de resposta da Rede Nacional Cuidados Continuados e Integrados e da rede de ERPIS – Estrutura Residencial para Pessoas Idosas. Estes resultados trazem mais uma vez o reforço da necessidade urgente da articulação entre a saúde e o sector social.
Apresentámos os projetos vencedores da Bolsa “Desenvolvimento do Capital Humano em Saúde” contribuindo assim para o surgimento de novas lideranças na saúde em Portugal. Formar e acompanhar os nossos talentos continua a ser uma prioridade para a APAH.
A já conhecida iniciativa 3F * Financiamento, Formula para o Futuro trouxe-nos os resultados preliminares do Projeto FAROL, no IPO Porto, para o desenho de um novo modelo de Financiamento para o Cancro do Pulmão, com vista à valorização dos resultados em saúde, mostrando que é possível financiar o valor e não o volume.
O Prémio Saúde Sustentável celebra este ano a sua 10ª edição e já premiou mais de 70 instituições prestadoras de cuidados de saúde. Nesta conferencia revisitámos alguns dos projetos vencedores de edições anteriores para perceber em que medida os mesmos se continuaram a desenvolver e consolidaram no terreno. A principal questão suscitada ao longo da sessão foi precisamente de que forma poderemos contornar as ainda existentes barreiras na escalabilidade das boas-práticas, que muitas vezes não passam de projetos-piloto restritos à dimensão da instituição de saúde que as promove/desenvolve. Mais um desafio para o futuro.
Percebemos ainda quais os caminhos para a transição digital na saúde e qual o roteiro para a construção da mudança. Concluimos que o previsto no plano de recuperação e resiliência deve ser apenas um ponto de partida para que os hospitais se preparem para a transformação digital. Para que essa transformação seja possível, será fundamental que invistam mais recursos nesta dimensão, particularmente tendo em conta o impacto que poderá ter na melhoria da prestação de cuidados. Tivemos ainda a oportunidade de assistir à demonstração, por parte da Microsoft, de uma serie de soluções tecnológicas que já estão à nossa disposição, com evidência clara do seu impacto na prestação de cuidados .
Nesta conferência também atribuímos, juntamente com a ENSP, a IQVIA e a IASIST, o Prémio Coriolano Ferreira 2021 para a melhor tese em Administração Hospitalar à aluna Rita Salgado, com a “Caracterização das Admissões à Urgência nos 30 dias após a alta do internamento no Centro Hospitalar Universitário do Algarve”.
Demos continuidade às nossas publicações lançando juntamente com PaFIC, ENSP e a Almedina o livro: Handbook “Integração de cuidados”, coordenado pelo Rui Santana, – dando merecido destaque à integração de cuidados e à forma como esta dimensão pode ser usada como elemento transformador da forma como prestamos cuidados de saúde. Como enunciado no prefácio escrito pela Adelaide Belo, “a integração de cuidados é necessária quando a fragmentação da prestação é de tal modo desajustada às necessidades das pessoas que se torna subótima ou mesmo adversa, com impacto nas experiências dos utentes e nos resultados em saúde”.
Sentidamente homenageámos um dos melhores de nós, Professor Vasco Reis, figura maior da Saúde Pública e da Administração Hospitalar, que não era “pessimista em relação ao futuro dos sistemas de saúde”.
Foi possível juntar os Ex-Presidentes e outras figuras maiores da associação para celebrar os 40 anos da associação, atribuindo-lhes de uma medalha comemorativa como sinal da nossa gratidão pelo seu contributo para o crescimento da nossa Associação. O facto de estarmos aqui hoje, em muito se deve ao seu empenho e dedicação. Foram e continuam a ser uma das nossas inspirações para construir o futuro.
Pelo seu contexto, pela vastidão e qualidade do seu programa, foi difícil organizar esta conferência. Uma palavra de agradecimento para as dezenas de parceiros que fizeram este caminho connosco, que apostaram na APAH como um veículo de disseminação de boas práticas, aos que dedicaram tempo para, com a APAH, partilharem o seu conhecimento mas também para a equipa da APAH que, uma vez mais, com elevado brio, profissionalismo e dedicação, levou este barco a bom porto: Miguel Costa Lopes, Alexandra dos Santos e Sofia Marques, muito obrigado por tudo o que fizeram.
Foram cinco 4 dias de aprendizagem, de partilha, de inspiração para que todos tenhamos a audácia de não desistir desta bondosa utopia que foi (e continua a ser) o Serviço Nacional de Saúde.
Como escreveu o Prof. Vasco Reis “Não é fácil, ao fim de estes anos todos, dizer que chegámos aqui. E chegámos. Agora, vamos lá ver. Vamos continuar? Vamos”
Muito obrigado.
E até breve!
Reveja também a cerimónia de abertura da 9.ª Conferência de VALOR APAH.
A APAH agradece a todos os parceiros e patrocinadores que tornaram possível a concretização da 9.ª Conferência de VALOR.